domingo, 27 de junho de 2010

Instantes



Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser perfeito; relaxaria mais.
Seria mais tolo do que tenho sido; na verdade,
bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico.
Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvetes e menos lentilhas,
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente
cada minuto de sua vida; claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabes, disso é feita a vida, só de momentos,
não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro,
uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas;
se eu voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço
no começo da primavera, e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vida pela frente.
Mas vejam, tenho 85 anos
e sei que estou morrendo... 

Gentilmente cedido pela querida Inês, poema de José Luis Borges.

quinta-feira, 24 de junho de 2010


je ne crois en rien et que ce non-croire se fasse mon guide, car en cet instant mon âme se fond sans ombre ni lumière au-delà des couleurs et des formes, pour se rendre infiniment grande, infiniment invisible.

Não acredito em nada e que esse lema se torne o meu guia, pois neste instante a minha alma funde-se, sem sombras nem luz, para além das cores e das formas, para se tornar infinitamente maior, infinitamente invisível.

A conscientização é um acto de sobrevivência.
Hoje, mais do que nunca, torna-se imprescindível ajustar o nosso comportamento a valores de desenvolvimento sustentável e de respeito por todas as formas de vida afim de preservar o que nos resta desta maravilhosa herança biológica que é o mundo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010


A evolução nem sempre tem a ver com conforto, êxtase ou bondade. Afinal a própria natureza tem um braço que constrói e outro que destrói e a evolução processa-se com os dois.
Progresso tem a ver com esforço e capacidade de criar, do seu âmago, um projecto de vida.

quinta-feira, 10 de junho de 2010


Há momentos, assim, límpidos, independentes do passado, do presente ou do futuro, momentos de pura união.

Si
en cet instant
tout te donner
je pourrais
le monde ne suffirait
de mon corps
toutes les caresses
amant, maître, père
nul mot
nulle étreinte
tant mon insatiable faim
impétueux désir
de mon coeur t'appartenir

quarta-feira, 9 de junho de 2010


Para podermos usufruir das experiências diárias e das pessoas que atravessam a nossa vida, precisamos de ter uma atitude de aprendizado, podemos aprender com tudo e com todos, nem que seja a tornar-nos mais tolerantes ou mais atentos ou mais incisivos.

sexta-feira, 4 de junho de 2010


Fim de semana no campo.

Debaixo da macieira, deitada sobre a erva seca,
olho a minha mãe a trabalhar.
Observo o ritmo da vida, os ciclos da terra.
Será que a felicidade está além, na pós realização dos muitos e árduos objectivos que nos propomos ou será que está aqui, como poderia estar em qualquer outro lugar presente.
Como tudo cresce num ritmo de lenta e constante dedicação nas suas mãos,
a minha mãe, fonte de tudo o que sou, tudo o que vejo.

Talvez o meu intuito seja tão pouco preservar essa beleza tão intrinsecamente humana.

quinta-feira, 3 de junho de 2010


A maior prova de lealdade que a vida nos possa fazer consiste em por-nos frente a frente com a injustiça e ainda assim optar por ser justos. A única forma de mudar as coisas de maneira duradoura é através do exemplo, se respondermos à injustiça sendo injustos, apenas contribuímos para que esse ciclo continue ad infinitum. Terá que haver alguém a quebrar-lo. Alguém que não se deixe corromper. Muito mais importante é a lealdade aos nossos valores.
A medida de força de um homem/mulher não está na sua capacidade de superar ou destruir o outro, mas sim na sua convicção em ser e existir conforme o seu propósito.

Ainda que haja injustiça, deveremos ser justos,
que haja cobardia deveremos ser corajosos,
que haja mentira deveremos ser verdadeiros,
que haja fraqueza deveremos ser fortes.

A responsabilidade é nossa.