segunda-feira, 29 de outubro de 2007


A lua
ergueu-se tarde
já a história se alongava
ao bocejo do lume
De palavra em palavra
esvai-se a alma
converte-se em mundo
O regaço é o mesmo
terra morena
noite eterna
criadora
de estrelas
Humanos somos
bocas vivas
no tempo
pensamentos
do teu pensamento
Olha
é o sol
teu sonho é luz
o meu é alva

terça-feira, 23 de outubro de 2007

O óbvio


Isto por que o ser humano se esquece
e se imagina só.

Cada alimento que ingiro é manuseado por dezenas de pessoas para chegar até mim,
sem eles morreria à fome.
Cada tijolo que construiu a minha casa foi erguido por homens que pretendo desconhecer,
sem eles morreria de frio.
Cada pensamento que tenho vem de quem aprendi as palavras,
sem eles teria a mente vazia.
O calor da minha pele foi-me dado pelo sol,
e o sangue nas minhas veias vem dos laços de amor,
do rio de antepassados,
do primeiro homem,
do primeiro ser de sangue quente.

O óbvio afinal.

“Não se toca uma flor sem que uma estrela abane”, e não se abana o outro sem que a nossa mão trema.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007


Quando a memória
escorregou
esqueceu-se do tempo
que já lá vai
das horas
no jardim sagrado
onde a pele nua
se expressava ao alento

Beijo a tua casca
árvore de vida
sangue do meu ser
rio profundo e solene
recordo
como a manhã é bela
hoje

Nasci em teu seio
em teu seio
vivo e vicejo
amante da terra
vento alado
canto
agora e sempre
a tua aurora

domingo, 14 de outubro de 2007


Subirei
ao cimo da montanha
e gritarei
bem alto
para que os loucos
sejam firmes
para que os surdos
ouçam
para que os cegos
tirem as mãos dos olhos
e olhem para o sol
gritarei
até que as flores
brotem a seus pés
até que a esperança nasça

quarta-feira, 10 de outubro de 2007



Cada único momento
cada respiração
cada manhã

O tempo
não pára
nada se repete
são as nossas ilusões que nos fazem viver cada dia como o dia anterior
são os nossos pensamentos recorrentes
que projectam a mesma realidade em nossa volta
porque vemos hoje com o olhar de ontem
não somos capazes de ver a verdade única de cada instante.

Quando
Só a esperança nos diz que o futuro existe.

domingo, 7 de outubro de 2007


À quand
les songes bleus
qui volent
l'essence
de l'innocence
les jours dorés
de l'enfance
ou la voix libre
je fredonne
des chants heureux

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O Sabor do Outono


Das castanhas que estalam na boca e das folhas vermelhas caídas por terra fala o Outono. O vento torna-se Rei, majestoso e volupto na sua errança, o céu pinta-se em tons de Setembro, de Outubro e de Novembro, indo do rosa ao amarelo, do purpura ao azul movente, manchado pelas nuvens, que pensava eu quando era pequena tinham a textura do algodão e talvez o sabor do algodão doce das feiras do Verão. A chuva que bate à janela desperta o silencioso véu da alma, o nada, o fundo do ser pois não há nada a fazer. Precisamente parar, olhar pela janela fora e contemplar a vida a passar. E não importa a voz dos pessimistas que clamam alto e bom som que o mau tempo nos afecta a disposição. Deslizamos do desespero à esperança, o outono é belo, mesmo que a beleza pareça sempre pequena ao lado das preocupações...