quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O Sabor do Outono


Das castanhas que estalam na boca e das folhas vermelhas caídas por terra fala o Outono. O vento torna-se Rei, majestoso e volupto na sua errança, o céu pinta-se em tons de Setembro, de Outubro e de Novembro, indo do rosa ao amarelo, do purpura ao azul movente, manchado pelas nuvens, que pensava eu quando era pequena tinham a textura do algodão e talvez o sabor do algodão doce das feiras do Verão. A chuva que bate à janela desperta o silencioso véu da alma, o nada, o fundo do ser pois não há nada a fazer. Precisamente parar, olhar pela janela fora e contemplar a vida a passar. E não importa a voz dos pessimistas que clamam alto e bom som que o mau tempo nos afecta a disposição. Deslizamos do desespero à esperança, o outono é belo, mesmo que a beleza pareça sempre pequena ao lado das preocupações...

14 comentários:

quintarantino disse...

Fiquei sem palavras. A menina tem o péssimo hábito de nos apanhar assim desprevenidos. Mas gostei. Vou respirar e apreciar as árvores na sua verdadeira beleza...

DS disse...

Olá Quintarantino,trocou os seus óculos escuros pela visão da luz!
Se me permite, gosto do novo visual. Volte sempre!
Beijinho

7 disse...

Senti cada palavra que disseste. No meu rosto senti o vento, o frio da gota da chuva. À janela procurei o Sol, mas mesmo fechando-a com a tentativa de enganar o Céu, aparecia apenas as nuvens de algodão que minha amiga falava. Senti-me triste como os pessimistas, mas apenas sou uma criança e nos lençóis vou dormir esperando que amanhã as andorinhas dancem por cima de mim...Senti o texto que até me transportei. Lindo. Beijos.

quintarantino disse...

Continuo sem palavras... podes ter a certeza que voltarei. Só peço que, sem ser excessivamente abusivo ou intrometido, que não me trates como uma eminência parda... você não me cai no goto... estarei de volta, mas continuo sem palavras...

quintarantino disse...

A menina lê muito Marguerite Yourcenar, não lê? È que eu continua à procura da passagem em que ela fala das árvores e das folhas de Outono... ai, ai... sem palavras..

DS disse...

Tenho apenas memórias vagas de ter lido trechos dessa autora na minha adolescência. Peças de teatro provavelmente. Mas como poetas adoro Eugénio de Andrade, gosto de Alberto Caeiro, García Lorca, Jacques Prévert e muitos outros. Livros, gosto tanto de ler Platão como Harry Potter. Neste momento leio "Walden" de Henry David Thoreau.
Já agora, aqui vai uma beleza de Eugénio de Andrade:
Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
E o Quint, de que gosta?

quintarantino disse...

Um pouco de tudo... Joyce, Mishima, Pessoa, Campos, Eça, Vargas Llosa, Steinbeck, Bulgakov, Kundera, Wolfe... Céline... eu sei lá... mas não sou "snob"... um Tolkien também marcha... mas ando calaceiro... tenho livros e livros empilhados, mas ler...

DS disse...

Também sou fã de Tolkien, tive a sorte de ler a trilogia antes de os filmes saírem, com a imaginação bem solta, viajar naquele mundo é uma experiência fantástica.
Uma poesia dele:
Naquela costa me esperava o barco, nas ondas dança, levanta a proa,
nele me deito, pela borda espreito:
nas ondas trepa, pelo mar voa.
Velhos destroços, de aves cobertos,
belos navios, de luzes cheios,
que vão para um porto.Enfim liberto
da noite fria, dos meus receios.

quintarantino disse...

Pela beleza das tuas palavras e pelo prazer de cumprir o que não prometi:

"Um jardineiro fez-me notar que é no Outono que vemos a verdadeira cor das árvores. Na Primaver, a abundância de clorofila veste.as a todas com uma libré verde. Chegado Setembro, elas mostram-se cobertas das suas cores próprias, a bétula loira ou doirada, o bordo amarelo-laranja-vermelho, o carvalho cor de bronze e ferro" - Marguerite Yourcenar, "O Tempo, esse grande escultor" da DIFEL.

Para o fim-de-semana recebe amiga desconhecida um pequeno ramalhete de violetas que colhi secretamente num jardim banhada por poética solar

Marco Santos disse...

O gosto de vivenciar cada estação com maior prazer do que a anterior.
Lindo!
Já nem me lembrava deste texto magnífico. Em boa hora decidiste partilhar a tua escrita num blog, pois era um atentado pessoas simpáticas como as que aqui te visitam não poderem partilhar o tesouro que é tua Poética Solar.

JOY disse...

Olá DS,
É a primeira vez que visito o seu espaço e gostei . Gostei também deste poema que faz uma Exaltação ao outono/inverno que são 2 estações do ano que gosto ,o resto está no poema .voltarei

Joy

Eva Santos disse...

É realmente verdade. a beleza do Outono. Adoro o Outono assim como dos teus poemas. Poetisa.

notyet disse...

... e vivo nas folhas secas

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado