sábado, 29 de setembro de 2007

Meu olhar


Em meu sangue
correm as águas das altas planícies
as horas frescas do entardecer
o verde quente do verão

Minha vida é terra
meu sonho
é o luar estendido ao alento

Que me importa
a densidade das coisas

Meu olhar é leve
como as asas da andorinha
do extático amor pela vida
minha profunda devoção ao mar

De prece
ostento o corpo ao sol
o sorriso
a tua mão estendida
o sopro da tua palavra
o reconhecer do desconhecido
a visão da sombra e da luz
entrelaçadas lado a lado
amantes
como a morte e a vida

Meu olhar é leve
como a pena mágica
com a qual desenho o mundo

De pensamentos!
Ó como todos nós pensamos
com a faca afiada das nossas certezas
cobrindo a beleza
com o manto espesso
da ignorância

Quando o segredo da vida
está numa única folha
numa única estrela

A mania de pavimentar cimento
onde outrora naturalmente
brotavam flores
Assim
é o pensamento do homem
que troca as flores pelo asfalto
o coração pelo ego
a dádiva pelo poder

5 comentários:

quintarantino disse...

Curvo-me reverencialmente ante poetisa tão cristalina e, beijando-lhe as mãos, aspiro o seu aroma de alfazema e digo baixinho: "mesmo sem poder contemplar seus olhos, adivinho que tens um olhar ternamente belo!"

SILÊNCIO CULPADO disse...

O poder ensandece o homem que o procura. Não é só da família humana que ele se afasta quando troca o coração pelo ego e a dádiva pelo poder: é também, e essencialmente, de si próprio. Porque ao tornar-se mais individualista torna-se também mais solitário e quando permite que o asfaltado cubra a terra fértil está a encetar um caminho sem regresso.

SEMPRE disse...

É triste que o mundo se tenha transformado num espaço pavimentado sem lugar para grandes ilusões. Pelo menos nestas sociedades ditas desenvolvidas.

Eva Santos disse...

Felizes aqueles que acreditam na simplicidade das coisas, como tu poetisa!

Eva Santos disse...
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