sábado, 29 de setembro de 2007

Meu olhar


Em meu sangue
correm as águas das altas planícies
as horas frescas do entardecer
o verde quente do verão

Minha vida é terra
meu sonho
é o luar estendido ao alento

Que me importa
a densidade das coisas

Meu olhar é leve
como as asas da andorinha
do extático amor pela vida
minha profunda devoção ao mar

De prece
ostento o corpo ao sol
o sorriso
a tua mão estendida
o sopro da tua palavra
o reconhecer do desconhecido
a visão da sombra e da luz
entrelaçadas lado a lado
amantes
como a morte e a vida

Meu olhar é leve
como a pena mágica
com a qual desenho o mundo

De pensamentos!
Ó como todos nós pensamos
com a faca afiada das nossas certezas
cobrindo a beleza
com o manto espesso
da ignorância

Quando o segredo da vida
está numa única folha
numa única estrela

A mania de pavimentar cimento
onde outrora naturalmente
brotavam flores
Assim
é o pensamento do homem
que troca as flores pelo asfalto
o coração pelo ego
a dádiva pelo poder

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Corações


Nos homens
há corações
de pedra
de pau
corações
de água
de luz
corações
endurecidos
como o ferro das máquinas

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

A dignidade


Não há dignidade sem valores, a dignidade apela-nos directamente a considerar o valor intrínseco de cada ser humano, é um dom inato transmitido a cada ser vivo como o próprio sopro insuflado nas suas narinas.
Dos dignos e menos dignos apenas se reconhecem os segundos porque se esqueceram de quem são, perderam-se nas marés da vida pensando que são aquilo que são, quando são apenas aquilo que pensam ser.
Digno é o sangue que corre nas nossas veias, o som distinto das nossas vozes, digna é a palavra feita vida e a vida feita palavra, digno é o nosso olhar desde crianças, aquele que nos faz ver o mundo com luz, digna é a inocência reencontrada.
Dignidade é vida, nada teria nascido sem a dignidade merecida, por mais que a procuramos nos estatutos sociais, na conta bancária, no casamento ou no poder, a cada um que olhar para o fundo do seu coração saberá ver a dignidade do ser humano, de ter nascido tal como é, de um amor infinito e poderoso e isso basta, essa dignidade basta.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Linda Flor

Cresce
linda flor
solta a vida
inunda o mundo
do teu suave perfume
pois se os homens são cegos
tu
linda flor
desprezas a dor
destemes a morte
sabes
linda
que essa tranquila ternura
impregne na tua cor
está para além do Sábio
para além do Rei
para além da luta contra o tempo
que converte o pensamento em angústia
tu
linda flor
derramas a tua alma
perante o olhar atento
linda és
na tua eterna inocência

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Tangue
tangue ta langue
mange-moi mon ange
me délinge
me met en orbite
autour de toutes les planètes
en fête
de toutes les galaxies
en furie
jusqu'à l'infini

sábado, 15 de setembro de 2007

A imagem de Deus


Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra e sobre os répteis que se arrastam sobre a terra."
Génesis 1.2 V.26

Toda a magnificência e devastação da nossa civilização se gerou nestas palavras.

Pois bem...E se não fosse verdade!

Se fossem, na realidade, os homens a criar um Deus à sua imagem e semelhança.
Um Deus guerreiro, dominador, megalómano, avesso aos prazeres, castigador e aterrorizante.
Se não fossemos feitos para reinar sobre as outras espécies, mas sim para coabitar com elas.
Se não fossemos predestinados a ser reis da terra, mas fossemos tão somente seus filhos reverenciando-a em vez de a explorar.
Talvez Deus tivesse a face mais serena, sem estar pregado a uma cruz, talvez ele sorrisse para a vida em vez de abraçar a morte.
Talvez até fosse mulher e não homem.
Talvez essa mulher tivesse o rosto do céu e o corpo da terra, se vestisse de arco íris e cheirasse a primavera.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Elevação


Reparo no poder que detemos nas nossas mãos mas que entregamos ao vento em troca do acomodamento.

Hoje podemos viver as nossas vidas e escolher as nossas acções com a visão mais elevada de nós próprios em vez de repetir o mesmo traço de ontem!

Se é que ainda existe tempo para tal elevação!

Leves
são tão pouco
as penas
das asas de anjo
que velam
ainda
desgarradas

sábado, 8 de setembro de 2007


Porque o sol nasce
em ti
se espalha pelo céu
alem do tempo
onde as águas são puras
e as crianças dormem livres

Se em teu peito
eu vivesse
sim
como se em teu peito
pudesse eu viver
seria a seiva da vida
o som perfeito
a única
verdadeira palavra
seria amor

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Liberdade!

Porque será que a maior parte de nós, nascendo livres, vivem como escravos, apegados a trabalhos, a relacionamentos e a ideias que os esgotam em vez de os preencher. O medo de viver e de mudar é tão grande que permanecemos estáticos em situações que desprezamos, para depois desprezar a vida e dizer que ela é difícil. Ora a vida não é nada mais do que as palavras que criamos para a descrever, nada mais que um espelho ao nosso alcance. Afinal é o medo de morrer que acaba por nos matar antecipadamente e o medo de sofrer que nos torna vitimas uns dos outros.
Enquanto não formos capazes de aceitar a nossa liberdade inata não seremos capazes de reconhecer a nossa responsabilidade perante o papel que desempenhamos no mundo. Viveremos sonâmbulos, incapazes de nos expandir como seres humanos na sua singularidade e em conjunto.