segunda-feira, 31 de dezembro de 2007


Do alto da minha janela
o tempo
os dias voam
como chaves da minha história
hoje ainda
abraço o horizonte
entro nas fendas secretas da terra
para contar cada ser
lembro-me da árvore
a árvore lembra- se da chuva
a chuva lembra-se do mar
e o mar
Ah o mar
encerra a memória de todos
desde o princípio
até à última gota que o sol beber

sábado, 22 de dezembro de 2007


Envolta
na sonolenta quietude do teu xaile
descanso
os segundos batem
atentam
a chamar à razão do tempo
mas
nem por isso volto
o espirito dança
entre as chamas
move-se
ao crepitar do lume
esvaí-se
aqui
e alem
num ruído esquecido
numa palavra solta
na voz da minha mãe
a dizer
até amanhã
até amanhã mãe
eu fico
ainda

sábado, 8 de dezembro de 2007


Sonho azul
à volta de mim
viaja o teu pensamento
roda, roda
e tranca-se no coração
eu suspiro
recordo o toque
efémero
extático
roda, roda
quente
quase queima
corre
foge
sobe até voar

abranda

acordo
movida por ondas mudas
anjos adormecidos
doce regresso a mim

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007


Voa
pássaro ardente
foge
vai pelo negro céu
sobe
sobe ao infinito
abre as asas
e volta
traz contigo a liberdade

quarta-feira, 28 de novembro de 2007


Dizias tu
que a terra está em êxtase
perante o céu
por isso as árvores para lá crescem
e o ser também
é que a criança a rir
traz com ela a doçura do mundo
como a ramagem se espreguiça ao sol
e o entardecer
lentamente
apela ao horizonte

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Lá dentro
havia bonecas esfarrapadas
ideias perdidas
esboços de amor
algumas plantas secas
das quais colhi a semente
guardando-a cuidadosamente no bolso

Havia saudades a pairar pelo ar
ferramentas pousadas a um canto
uma bacia de água límpida
outra de agua turva
de lágrimas derramadas

Havia sorrisos
aqui e ali
vozes perdidas
canções de embalar
uma paixão arrefecida
transformada em cinzas

Havia velhos retratos
um livro de encantos
sombras do que poderia ser

Ao canto
havia uma janela
abri-a
era a esperança.

terça-feira, 6 de novembro de 2007


É aqui
entre o sol que desce
e a lua que ascende
cheguei
é meu lar

A espuma brilha sobre as ondas

segunda-feira, 5 de novembro de 2007


Como gostava de me tornar luz
de luz viva acender todos os corações em uníssono
de um sonho perdido reavivar a minha voz
fazer da tua palavra a minha.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007


A lua
ergueu-se tarde
já a história se alongava
ao bocejo do lume
De palavra em palavra
esvai-se a alma
converte-se em mundo
O regaço é o mesmo
terra morena
noite eterna
criadora
de estrelas
Humanos somos
bocas vivas
no tempo
pensamentos
do teu pensamento
Olha
é o sol
teu sonho é luz
o meu é alva

terça-feira, 23 de outubro de 2007

O óbvio


Isto por que o ser humano se esquece
e se imagina só.

Cada alimento que ingiro é manuseado por dezenas de pessoas para chegar até mim,
sem eles morreria à fome.
Cada tijolo que construiu a minha casa foi erguido por homens que pretendo desconhecer,
sem eles morreria de frio.
Cada pensamento que tenho vem de quem aprendi as palavras,
sem eles teria a mente vazia.
O calor da minha pele foi-me dado pelo sol,
e o sangue nas minhas veias vem dos laços de amor,
do rio de antepassados,
do primeiro homem,
do primeiro ser de sangue quente.

O óbvio afinal.

“Não se toca uma flor sem que uma estrela abane”, e não se abana o outro sem que a nossa mão trema.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007


Quando a memória
escorregou
esqueceu-se do tempo
que já lá vai
das horas
no jardim sagrado
onde a pele nua
se expressava ao alento

Beijo a tua casca
árvore de vida
sangue do meu ser
rio profundo e solene
recordo
como a manhã é bela
hoje

Nasci em teu seio
em teu seio
vivo e vicejo
amante da terra
vento alado
canto
agora e sempre
a tua aurora

domingo, 14 de outubro de 2007


Subirei
ao cimo da montanha
e gritarei
bem alto
para que os loucos
sejam firmes
para que os surdos
ouçam
para que os cegos
tirem as mãos dos olhos
e olhem para o sol
gritarei
até que as flores
brotem a seus pés
até que a esperança nasça

quarta-feira, 10 de outubro de 2007



Cada único momento
cada respiração
cada manhã

O tempo
não pára
nada se repete
são as nossas ilusões que nos fazem viver cada dia como o dia anterior
são os nossos pensamentos recorrentes
que projectam a mesma realidade em nossa volta
porque vemos hoje com o olhar de ontem
não somos capazes de ver a verdade única de cada instante.

Quando
Só a esperança nos diz que o futuro existe.

domingo, 7 de outubro de 2007


À quand
les songes bleus
qui volent
l'essence
de l'innocence
les jours dorés
de l'enfance
ou la voix libre
je fredonne
des chants heureux

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O Sabor do Outono


Das castanhas que estalam na boca e das folhas vermelhas caídas por terra fala o Outono. O vento torna-se Rei, majestoso e volupto na sua errança, o céu pinta-se em tons de Setembro, de Outubro e de Novembro, indo do rosa ao amarelo, do purpura ao azul movente, manchado pelas nuvens, que pensava eu quando era pequena tinham a textura do algodão e talvez o sabor do algodão doce das feiras do Verão. A chuva que bate à janela desperta o silencioso véu da alma, o nada, o fundo do ser pois não há nada a fazer. Precisamente parar, olhar pela janela fora e contemplar a vida a passar. E não importa a voz dos pessimistas que clamam alto e bom som que o mau tempo nos afecta a disposição. Deslizamos do desespero à esperança, o outono é belo, mesmo que a beleza pareça sempre pequena ao lado das preocupações...

sábado, 29 de setembro de 2007

Meu olhar


Em meu sangue
correm as águas das altas planícies
as horas frescas do entardecer
o verde quente do verão

Minha vida é terra
meu sonho
é o luar estendido ao alento

Que me importa
a densidade das coisas

Meu olhar é leve
como as asas da andorinha
do extático amor pela vida
minha profunda devoção ao mar

De prece
ostento o corpo ao sol
o sorriso
a tua mão estendida
o sopro da tua palavra
o reconhecer do desconhecido
a visão da sombra e da luz
entrelaçadas lado a lado
amantes
como a morte e a vida

Meu olhar é leve
como a pena mágica
com a qual desenho o mundo

De pensamentos!
Ó como todos nós pensamos
com a faca afiada das nossas certezas
cobrindo a beleza
com o manto espesso
da ignorância

Quando o segredo da vida
está numa única folha
numa única estrela

A mania de pavimentar cimento
onde outrora naturalmente
brotavam flores
Assim
é o pensamento do homem
que troca as flores pelo asfalto
o coração pelo ego
a dádiva pelo poder

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Corações


Nos homens
há corações
de pedra
de pau
corações
de água
de luz
corações
endurecidos
como o ferro das máquinas

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

A dignidade


Não há dignidade sem valores, a dignidade apela-nos directamente a considerar o valor intrínseco de cada ser humano, é um dom inato transmitido a cada ser vivo como o próprio sopro insuflado nas suas narinas.
Dos dignos e menos dignos apenas se reconhecem os segundos porque se esqueceram de quem são, perderam-se nas marés da vida pensando que são aquilo que são, quando são apenas aquilo que pensam ser.
Digno é o sangue que corre nas nossas veias, o som distinto das nossas vozes, digna é a palavra feita vida e a vida feita palavra, digno é o nosso olhar desde crianças, aquele que nos faz ver o mundo com luz, digna é a inocência reencontrada.
Dignidade é vida, nada teria nascido sem a dignidade merecida, por mais que a procuramos nos estatutos sociais, na conta bancária, no casamento ou no poder, a cada um que olhar para o fundo do seu coração saberá ver a dignidade do ser humano, de ter nascido tal como é, de um amor infinito e poderoso e isso basta, essa dignidade basta.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Linda Flor

Cresce
linda flor
solta a vida
inunda o mundo
do teu suave perfume
pois se os homens são cegos
tu
linda flor
desprezas a dor
destemes a morte
sabes
linda
que essa tranquila ternura
impregne na tua cor
está para além do Sábio
para além do Rei
para além da luta contra o tempo
que converte o pensamento em angústia
tu
linda flor
derramas a tua alma
perante o olhar atento
linda és
na tua eterna inocência

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Tangue
tangue ta langue
mange-moi mon ange
me délinge
me met en orbite
autour de toutes les planètes
en fête
de toutes les galaxies
en furie
jusqu'à l'infini

sábado, 15 de setembro de 2007

A imagem de Deus


Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra e sobre os répteis que se arrastam sobre a terra."
Génesis 1.2 V.26

Toda a magnificência e devastação da nossa civilização se gerou nestas palavras.

Pois bem...E se não fosse verdade!

Se fossem, na realidade, os homens a criar um Deus à sua imagem e semelhança.
Um Deus guerreiro, dominador, megalómano, avesso aos prazeres, castigador e aterrorizante.
Se não fossemos feitos para reinar sobre as outras espécies, mas sim para coabitar com elas.
Se não fossemos predestinados a ser reis da terra, mas fossemos tão somente seus filhos reverenciando-a em vez de a explorar.
Talvez Deus tivesse a face mais serena, sem estar pregado a uma cruz, talvez ele sorrisse para a vida em vez de abraçar a morte.
Talvez até fosse mulher e não homem.
Talvez essa mulher tivesse o rosto do céu e o corpo da terra, se vestisse de arco íris e cheirasse a primavera.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Elevação


Reparo no poder que detemos nas nossas mãos mas que entregamos ao vento em troca do acomodamento.

Hoje podemos viver as nossas vidas e escolher as nossas acções com a visão mais elevada de nós próprios em vez de repetir o mesmo traço de ontem!

Se é que ainda existe tempo para tal elevação!

Leves
são tão pouco
as penas
das asas de anjo
que velam
ainda
desgarradas

sábado, 8 de setembro de 2007


Porque o sol nasce
em ti
se espalha pelo céu
alem do tempo
onde as águas são puras
e as crianças dormem livres

Se em teu peito
eu vivesse
sim
como se em teu peito
pudesse eu viver
seria a seiva da vida
o som perfeito
a única
verdadeira palavra
seria amor

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Liberdade!

Porque será que a maior parte de nós, nascendo livres, vivem como escravos, apegados a trabalhos, a relacionamentos e a ideias que os esgotam em vez de os preencher. O medo de viver e de mudar é tão grande que permanecemos estáticos em situações que desprezamos, para depois desprezar a vida e dizer que ela é difícil. Ora a vida não é nada mais do que as palavras que criamos para a descrever, nada mais que um espelho ao nosso alcance. Afinal é o medo de morrer que acaba por nos matar antecipadamente e o medo de sofrer que nos torna vitimas uns dos outros.
Enquanto não formos capazes de aceitar a nossa liberdade inata não seremos capazes de reconhecer a nossa responsabilidade perante o papel que desempenhamos no mundo. Viveremos sonâmbulos, incapazes de nos expandir como seres humanos na sua singularidade e em conjunto.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007


Agradeço a saudade
pelo que me lembra o amor
a tristeza
pela qual vislumbro a alegria
as sombras
que determinam a entrada de luz
agradeço a fealdade
pelo que reconheço a beleza
o baixo
para me içar mais alto
a espera
pelo entusiasmo da chegada
agradeço
todas as cores
dimensões do sentimento
pela qual desponta a poesia da vida
a chama do conhecimento

terça-feira, 28 de agosto de 2007


Como se burros que nós fossemos seguíssemos a cenoura que nos é estendida com o pau para avançar, mas que nunca atingimos.
A menos que burros deixássemos de ser, ganhássemos consciência para parar, tirar a cenoura da nossa frente e as palas que nos ocultam a visão!

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

De pés descalços
caminho
neste único tempo

Despindo-me do artifício
a cada passo

Nua
é minha alma
nua é a árvore desfolhada
sob a neve
nu
é o sopro
que entra e sai de mim

sábado, 25 de agosto de 2007


Os nossos hábitos são determinados pela cultura em que nascemos, pelas escolhas que fazemos, pela genética, quem sabe, talvez! Alguns são conscientes, muitos inconscientes.
Até a própria morte se poderia determinar como um hábito, não tivéssemos nós herdado dos nossos antepassados essa malfadada tendência que é morrer.
O universo é infinito, não tem a noção que nós temos de vida e de morte, para ele existe apenas um fluxo ininterrupto de sucessivos acontecimentos.
Para nós existe um fim!
Essa noção a que os homens chamam fim é uma percepção cultural (um hábito mental herdado) e não uma verdade inata.
Não existe nenhum ditador de leis a que os homens chamam Deus (ou se existe, têm mais que fazer).
È provável que tenhamos inventado a noção de destino para nos livrar da responsabilidade das nossas próprias acções. Temos como consequência a limitação das nossas consciências à visão das nossas vidas como círculos fechados e não ao que elas são de facto, um mar infinito de possibilidades!

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Semeei um desejo na lua nova
para que ele cresça quando ela for redonda
floresça nas sete luas
e dê fruto no meu verão!

terça-feira, 21 de agosto de 2007

La fim de la journée

Maintenant
la caresse du vent

passe

m’emporte loin

loin d’ici bas

j’ouvre les yeux

enfin

les étoiles

la journée est passée

loin
elle est
poussière
dans mes mains
je souffle
aujourd’hui s’en va
maintenant
reste la nuit

reste le silence

segunda-feira, 20 de agosto de 2007


Não existe destino,
existem sim hábitos
que nos levam a determinado resultado!

sábado, 18 de agosto de 2007

O sol brilha, de facto!

É o sentimento de posse que faz com que tenhamos a sensação de perda.
Será que realmente possuímos algo ou somos simples acompanhadores das circunstancias?
Quando olhamos um pássaro em voo, sabemos a leveza das suas asas. - Ah como deve ser bom voar! E contemplando-o, o nosso imaginário voa com ele. Mas se o quisermos agarrar, se quisermos pô-lo em jaula, ele nunca mais voará e nós não saberemos mais voar com ele. A flor murcha mais rápido ao colhê-la, o amor passa-nos ao lado e muda de rumo quando o damos por nosso.
Felizes são aqueles que percebem a beleza do que lhes passa pelas mãos mas que não as fecham, que observam o pássaro e voam com ele, que admiram a flor e se abrem com ela, que se entregam ao amor, ao momento. Esses, talvez entendam a dádiva da vida, porque o sol brilha, de facto, eleva-se todas as manhãs para os que acreditam que o mundo é um lugar cheio de oportunidades às quais se entregar e não simplesmente mais um dia que passa.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007


Entre mim
e ti
há uma ponte de prata
onde as vozes se unem
esquece-se o tempo
onde a luz penetra
entre mim
e ti

Dei por mim!


Dei por mim, numa tarde de sol radiante, equivocada, a minha vida tingida em meios tons.
O esplendor alado da poesia cingido à expressão de uma vida mediana. Perdida entre as hastes do desejo e da resignação.
Dei por mim farta mas faminta de grandeza, como se qualquer alimento perdesse o sabor perante a inocuidade do espirito.
Dei por mim conscientemente ignorante, como se do vasto universo eu soubesse apenas menos que nada, um conjunto de conceitos obsoletos que se empoeiram com o tempo.
Assim.
Lembrei-me da eternidade, da memória ancestral que me deu vida e notei como a minha retribuição era escassa perante a sua imensidão.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Um segundo eterno


Num segundo
vi a eternidade
na imensidão do céu
ao escurecer
a solenidade entrou
e clamou um intenso silêncio

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A Tocadora




Voa
amor
bem alto
escuta
o violino
está a cantar
e o espirito
dança com ele

Alarga-se o céu
a pedra
desliza
como água

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Juste une fleur au milieu d'un champ fleuri



Je ne suis pas grand chose
juste une fleur au milieu d'un champ fleuri
mais en moi il y a tout
tout ce que je vois
tout ce que je sens est un monde

terça-feira, 31 de julho de 2007

Voltar


Voltar
com pacotes de lembranças
enfeitados de sorrisos
a tua imagem fixada
ao canto da memória
como uma luz brilhante
que afugenta a saudade

A amizade é um anjo
suspenso entre nós
que dança
e ri
envolto de céu

Minhas mãos cheias
transbordam
de momentos floridos
pequenos sóis de verão
tua alegria ronda
ainda
aqui e ali
tal o rasto perfumado
da beleza a passar

Encosto-me
ao ténue luar
sonho de um riacho
sinuoso
a correr
escavando mais fundo
o curso do destino
sonho de talvez
te voltar a ver

para Gabrielle, actriz de teatro residente em Marseille (França)